12 de setembro de 2010

Livros de ensino religioso em escolas públicas estimulam homofobia e intolerância


Uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) concluiu que o preconceito e a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa de milhares de crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro.

Produzido com base na análise dos 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do país, o estudo foi apresentado no livro “Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil”, lançado em Brasília.

“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, afirma a antropóloga e professora do departamento de serviço social, Débora Diniz, uma das autoras do trabalho. A pesquisa analisou os títulos de algumas das maiores editoras do país.

A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso (que ficou limitada a uma referência anônima e sem biografia), 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo. João Calvino nem mesmo é citado.

O estudo aponta que a discriminação também faz parte da tarefa. Principalmente contra Homossexuais. “Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o Homossexualismo não se revela natural” são algumas das expressões usadas para se referir aos homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo.

Um exercício com a bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso (a Homossexualidade) se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”.

O ensino religioso também ataca os Ateus. A pesquisadora afirma que o estímulo ao preconceito chega ao ponto de associar uma pessoa sem religião ao nazismo – ideologia alemã que tinha como preceitos o racismo e o antissemitismo, na primeira metade do século 20.

“É sugerida uma associação de que um Ateu tenderia a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, observa Débora. “Os livros usam de generalizações para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa a especialista, uma das três autoras da pesquisa.

Os números contrastam com a previsão da Lei de Diretrizes e Base da Educação de garantir a justiça religiosa e a liberdade de crença. A lei 9475, em vigor desde 1997, regulamenta o ensino de religião nas escolas brasileiras.

“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasileiras, tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta a especialista.

Já Tatiana Lionço, psicóloga que também participou da análise dos títulos, o grande problema é o fato de o Estado não monitorar o conteúdo dos livros religiosos usados pelas escolas do Brasil.

"Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má formação dos alunos", considera. Ainda segundo Tatiana, o modelo do ensino religioso não costumar levar em conta a laicidade do Estado. "Se o Estado deveria ser laico, por que ensinar religião nas escolas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails