4 de agosto de 2009

Campinas faz Conferência de Segurança Pública e Juventude GLBT

Conferência de Segurança Pública & Juventude GLBT

Sob o tema "Segurança para Ser o que Somos", 48 delegados de todo o estado de SP se reuniram no domingo (26/07), em Campinas, para discutir homofobia, juventude e segurança pública. Adolescentes e jovens definiram como o Estado deve combater a homofobia.

Os participantes da Conferência Livre de Segurança Pública & Juventude GLBT, selecionados dentre grupos de jovens GLBTs de Araras, Campinas, Guarujá, Guarulhos, Paulínia, São Bernardo do Campo, São Carlos, São Paulo, São Vicente e Sorocaba, debateram e definiram, juntamente com membros do Executivo e do Legislativo campineiro, princípios e diretrizes para melhorar o combate à homofobia no país.

A conferência foi organizada pelo Grupo E-jovem, com apoio da 1ª Conseg - Conferência Nacional de Segurança Pública, do Fórum Paulista de Juventude GLBT, do Canal Futura, do Sindicato dos Frentistas e do Vereador Sérgio Benassi (PCdoB).

Logo cedo, foram todos recepcionados pela Drag Queen Lohren Beauty, presidente do E-jovem, que entrevistou os convidados numa espécie de talk show, abrindo para perguntas dos participantes.

"Muito melhor um bate papo desconstraído do que aquela chatice de mesa de abertura e bla-bla-blás intermináveis," disse a Drag ativista.

Paulo Reis, coordenador do Centro de Referência GLBT da Prefeitura de Campinas, declarou que os jovens precisam saber que se não denunciam a homofobia, é como se ela não existisse. "Políticas públicas se fazem com dados e os dados da violência sofrida pela Comunidade GLBT é a própria população GLBT que fornece."

Já o vereador Thiago Ferrari (PMDB), fez questão de comentar que quando apoiou a juventude durante a Parada GLBT de Campinas, ele mesmo foi vítima de discriminação. "Mesmo sendo heterossexual, ouvi piadinhas. Mas sou contra qualquer forma de discriminação e continuarei apoiando."

O vereador Sérgio Benassi (PCdoB), além de apoiar o evento, também fez questão de comparecer e dar o seu recado. "Há 20 anos atrás, um encontro como esse seria impensável. Esse é o caminho, se quisermos mudar esse sistema que se alimenta da discriminação. A luta dos que são contra os direitos dos Homossexuais é uma luta perdida."

A abertura do evento contou ainda com o lançamento do filme "SEGURANÇA para SER o que SOMOS", curta-metragem produzido pelos adolescentes do projeto Galera E-jovem, e com um pocket-show da Drag teen Linxel Lopes.

Os delegados então se dividiram em grupos para pôr a mão na massa. Ao longo de todo o dia, discutiram a homofobia sofrida pelos jovens nas escolas, nas ruas e até dentro de casa, quais as responsabilidades do Governo e quais as da sociedade e como isso muda com relação às classes sociais. Identificaram os problemas e propuseram soluções.

Toda essa discussão teve ainda o apoio de Silvia Frei de Sá, da equipe de mobilização do Canal Futura, que exibiu o vídeo "Abordagem Policial", produzido pelo canal.

Ela acompanhou de perto todos os grupos e gostou muito do que viu. "Principalmente o filme que os meninos fizeram, é exatamente o tipo de material que o Canal Futura procura. Seria exibido tranquilamente"

"A Conferência foi um grande ganho para a Juventude GLBT pois todas as propostas foram feitas pelos próprios adolescentes, baseados em suas realidades," afirmou Lohren Beauty. "Se isso os incentivou a pensar em mudar algo em suas vidas, já valeu a pena."

No fim, foram escolhidos sete princípios que deveriam ser abraçados pela Segurança Pública, de acordo com a Juventude GLBT - e as 21 diretrizes para se atingir esse objetivo:

"Nós, adolescentes e jovens do Estado de SP, reunidos em Campinas para a Conferência Livre de Segurança Pública e Juventude LGBT, organizada pelo Grupo E-JOVEM, deliberamos que:

PRINCÍPIOS

A Segurança Pública DEVE:

01) Ser menos homofóbica.

02) Ajudar a diminuir a desigualdade social.

03) Ser acessível a todos.

04) Ter trabalhos de conscientização junto à sociedade.

05) Ter um caráter mais preventivo do que corretivo em relação à violência.
06) Capacitar permanentemente seus agentes para que impeçam a prática da homofobia.

07) Mobilizar Guardas Municipais e Policiais Civis e Militares, em geral, em relação aos direitos de proteção dos GLBTs.


DIRETRIZES

Para que isso ocorra, o Estado deve:

01) Articular com os diversos setores do poder público a aprovação do PLC 122/06, que inclui a orientação sexual e a identidade de gênero entre as características protegidas de discriminação;

02) Realizar palestras e encontros de treinamento para policiais, delegados e demais agentes de segurança pública visando a mudança de mentalidade dos mesmos em relação aos Homossexuais;

03) Investir em recrutamento e seleção de policias, visando identificar personalidades homofóbicas e não efetivando pessoas com esse perfil;

04) Divulgação dessas e de outras ações de combate à homofobia em vídeos e banners para a conscientização geral;

05) Capacitar policiais para atender de forma igualitária a população, independente de classe social, orientação sexual ou qualquer outra característica;

06) Financiar cursos de capacitação para agentes de segurança pública, oferecidos por ONGs GLBTs;

07) Ter programas que incentivem a aproximação entre policiais e a sociedade, de forma que esses agentes conheçam melhor os membros da comunidade na qual trabalham, fortalecendo a confiança em ambas as partes;

08) Criar uma Coordenadoria específica para monitorar esse treinamento em Direitos GLBTs e o combate à homofobia dentro dos órgãos de Segurança Pública;

09) Mudar a forma de abordagem policial com relação aos GLBTs, principalmente às Travestis, que só deveriam ser abordadas por policias femininas;

10) Criar e implantar programas anti-homofobia nas escolas;

11) Divulgar os direitos da população GLBT nas escolas e dar condições para que os alunos exerçam esses direitos sem homofobia;

12) Promover, nas escolas, grupos de discussão para formação e informação de jovens que desejem combater a homofobia;

13) Educar para a segurança, incluindo essa temática no currículo de escolas e faculdades.

14) Realizar campanhas contra a homofobia na TV e em outras mídias;

15) Criar uma delegacia especializada para crimes de homofobia e violência contra GLBTs;

16) Convocar pais e/ou responsáveis por crianças e adolescentes para participarem de debates e palestras sobre a população GLBT e o combate à homofobia na comunidade;

17) Divulgar, através da mídia em geral, nas comunidades e em todo o país, a existência e os trabalhos dos grupos de apoio ao Movimento GLBT;

18) Criar projetos que aumentem e facilitem o contato e aproximação da sociedade com a população GLBT;

19) Financiar campanhas educativas desenvolvidas por ONGs especializadas em trabalho anti-homofobia;

20) Implantar programas de geração de renda e inclusão social para pessoas em situação de risco, com ênfase em pessoas que sofrem discriminação em virtude de sua orientação sexual e identidade de gênero, evitando que tais pessoas refugiem-se na criminalidade como meio de vida;

21) Divulgar maciçamente, na mídia, todos os projetos e ações contra a homofobia desenvolvidos pelo Estado.

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