Suely Munekata com três dos cinco manicures homens do salão
Ele trocou as armas de fogo por alicates, espátulas, lixas e vidrinhos de esmalte. Ex-segurança de carro forte, Henrique de Oliveira, 38 anos, virou manicure e se dedica hoje aos alongamentos de unhas em um salão no centro de São Paulo. Assim como ele, vários homens já têm encarado a função numa boa, ganhando a confiança de clientes.
“Trabalhei em carro forte e corria riscos todos os dias. Enfrentei assaltos e trocas de tiro. Sou 100% fazer unhas”.
Foi Suely Munekata, dona do Empório das Unhas, quem deu a chance a Oliveira e aos outros quatro homens que trabalham por lá atualmente, fora os que fizeram curso - o local é conhecido por ministrar aulas e ensinar técnicas de alongamento e decoração de unhas. A profissional conta que trabalhar com homens era um desejo antigo.
“Nos EUA e na Europa é mais comum [homens nesta atividade]. Morei anos no exterior e sempre tive vontade de treiná-los para ver como seria. Eles foram chegando aos poucos. O primeiro era carregador de caminhão. Era grandalhão e esquisito. Aos poucos, tornou-se um excelente profissional”.
Suely ainda diz que os homens têm pontos que contam a favor, como a concentração. “Parece que saem do mundo quando estão trabalhando. Se focam com muito mais facilidade”.
Elias Félix, 23 anos, estava fora do mercado de trabalho. Tudo começou quando virou promoter do Empório das Unhas. Por lá, encantou-se com a ideia de “decorar” as mãos femininas. Sua especialidade são unhas em 3D e alto relevo.
Já Remmy Sorcel, 24 anos, começou a trabalhar como manicure no salão Jacques Janine há três anos. Antes de assumir a função, ele era auxiliar do salão. Foi se interessando pela atividade e, aos poucos, começou a fazer unhas.
Embora se dedique mais ao ofício de dar aulas, Oliveira precisou aprender controlar a própria força e a ter delicadeza.
“Imagine, eu fico duas horas [tempo que leva um alongamento] segurando nas mãos delas. Depois de um tempo, viro psicólogo. Estou dando conselhos sobre maridos. Escuto de tudo, mas guardo para mim”.
Mas nem tudo são flores para estes homens corajosos. Suely, acostumada a treiná-los, gosta de avisar que é preciso ousadia. O preconceito existe e, em certos casos, é pesado.
Oliveira, acostumado à vida de segurança, conta ter sofrido preconceito dos amigos e da família.
“Foi difícil. O pessoal achava estranho. Quando os colegas de escola do meu filho descobriram, por exemplo, bagunçaram muito com ele: 'Teu pai é Gay, faz unhas!', disseram”.
Sarcel diz que enfrentou preconceito apenas uma vez, quando uma cliente se negou a fazer as unhas com ele.
“Ela não sabia que estava agendada comigo, quando viu, foi até à recepção e disse que não faria. Chegou a mandar e-mail ao salão falando que jamais faria as unhas com um homem”.
Suely, pioneira neste ramo, enxerga com otimismo a entrada dos homens neste mercado de trabalho.
“Quando começamos, há alguns anos, o preconceito era muito maior. Tenho recebido cada vez mais homens. Já vieram dentistas, designers e até um senhor de 70 anos, que começou a fazer unhas de Travestis”.
Sorcel concorda com ela: “Pelo que eu vejo, a área está crescendo. Existem outros homens querendo fazer cursos e se interessando”.
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