24 de agosto de 2010

Foi fundada a Associação dos Preconceituosos para reunir quem discrimina


Preste atenção, vou contar uma história
De pessoas que pensavam não ter defeito
Todas se uniram, eram um só grupo agora
Que foi chamado: o grupo do preconceito

Mas o grupo não durou muito tempo unido
Ele não deu muito certo, logo se desfez
Mas o que será que deve ter acontecido?
Eu vou contar sua história, era uma vez...

Cem pessoas participavam daquele evento
Mas a coisa que todas elas tinham igual
Era sem dúvida alguma aquele sentimento
Que deu nome ao grupo e juntou o pessoal

Mas bem no começo, um detalhe perceberam
No grupo de cem, branco não era a regra
Algo estava errado, logo se enfureceram
Pois dentre eles dez eram da raça negra

Lógico, os outros membros os expulsaram
Ficando só os noventa brancos perfeitos
Que tinham preconceitos e não perdoavam
Enfim livres dos detestáveis dez negros

O grupo, reduzido, já estava discutindo
Assim, começaram lá atrás algumas rixas
E vários no grupo acabaram se assumindo
Dos homens lá presentes, dez eram bichas

Vejam só este absurdo, como é que pode?
Bichas em meio aos machões, que nojento
Será que eles querem levar um "sacode"?
Devem gostar de porrada e de sofrimento

Vamos ter que limpar este grupo é agora
Sem essa de opção sexual, macho é macho
Batam bastante, mandem as bichas embora
E quem fizer frescuras aqui eu despacho

Falando em frescura, de quem é o batom?
Entre os oitenta há também dez mulheres
Com covardes e fracas o grupo não é bom
Já para a cozinha, entre copos e talheres

Ficaram assim apenas os setenta machões
Vamos fazer um estatuto, disse um então
Depois de conversas e muitas discussões
Decidiram: o grupo vai virar associação

Chamou-se Associação dos Brancos Machos
Completaram com o termo: Preconceituosos
Mas ao discutirem a religião e os seus atos
Alguns não eram cristãos, nem religiosos

Que absurdo, deus só tem um e é o nosso
Quem não seguir o pensamento vai embora
Exterminar seitas e ateus sei que posso
Fica grupo limpo, por dentro e por fora

Dentre setenta, vinte não eram cristãos
E assim não cultuavam nem vinho, nem pão
Expulsos a pontapés pelos outros irmãos
Sobraram só cinquenta da mesma religião

Mas olharam de novo, para espanto geral
Notaram surpresos, depois das expulsões
Que, nem dessa forma, o grupo era igual
Para uns o aluguel, para outros mansões

É uma vergonha ter pobres no nosso meio
Quem não tem dinheiro de nada nos serve
Aqui não fica pobre, mendigo, esmoleiro
É que os melhores não se juntam à plebe

Vinte pobres que não têm a nossa classe
Fiquem nos barracos ou vão já trabalhar
Seria favor se, sozinhos, nos deixassem
É hora do banquete com lagosta e caviar

Só sobraram ali os trinta privilegiados
Que odeiam e não se misturam com negros
Budistas, mulheres, pobres e nem viados
Queimemos todos por seus medonhos erros

Acho que podemos formar o grupo por fim
Só que não é um grupo, é uma associação
Após escolher o presidente, façam assim
Votem agora no secretário e no escrivão

Esperem, algo aqui ainda não está certo
Este grupo não parece ser bem homogêneo
Enquanto tem um sem estudo e analfabeto
O outro tem doutorado e é quase um gênio

Quem não tem estudo, faça-me já o favor
De se desligar hoje mesmo da Associação
Fiquem aqueles que têm título de doutor
Ou são bem formados, numa boa profissão

E vinte coitados sem estudo, nem letras
Já chamados de burros, de gente anormal
Foram expulsos dali com paus e marretas
E correram pelos fundos, para o quintal

Ali os dez melhores são os que sobraram
Morra quem é mulato, Gay ou de outra fé
E felizes da vida até se cumprimentaram
Mais perfeitos que eles, ninguém mais é

Mas só ao fazerem isso perceberam então
Que um deles tinha um defeitinho na mão
Quem tem dedo torto fica na Associação?
E levantou-se assim, uma nova discussão

Surdo e canhoto, sem direito respeitado
São defeitos da natureza, coisa anormal
Sai do grupo o cego, o mudo, o aleijado
Vamos pôr nisto tudo um bom ponto final

Junto daqueles, havia um manco da perna
Que ajudava o avô de aparelho na orelha
Expulse até os velhos, chega de baderna
Só fica gente sadia, sem a pele vermelha

Colocados para fora sem constrangimento
Todos os diferentes, até gordo e careca
Porque lá não aceitam nem em pensamento
Cadeira de roda, peruca, óculos, muleta

Com a perda dos sete por defeito físico
Só ficaram três deles, já meio abalados
Imaginando se ainda haveria algum risco
E temendo que algo os deixasse isolados

Passada esta fase começaram a conversar
Pois, afinal, ainda eram uma associação
Há coisas a fazer, assuntos a deliberar
Já que eles eram a rica nata da criação

E conversando muito e também discutindo
As coisas foram num instante aparecendo
E não eram iguais entre si nem sorrindo
Só agora é que estavam mesmo percebendo

Quanto a política e futebol discordavam
Cada membro tinha um partido ou um time
Centro, direita, Vasco, Grêmio gritavam
Lá todos tinham uma opinião muito firme

Então viram que o grupo não daria certo
Eram todos diferentes e não concordavam
E já nem podiam ver seu amigo por perto
Que chegava o preconceito e se enojavam

E assim cada um expulsou os outros dois
Por isso, aquela Associação se dissipou
Decidiram sumir, sem deixar para depois
Dessa forma, este horrendo grupo acabou

O tempo passou rápido, mas algo ocorria
E os três decidiram reunir-se novamente
Como não se vive só, o grupo retornaria
Mas desta vez, um novo projeto em mente

Quem é deficiente foi novamente chamado
Pois defeito não era motivo de exclusão
Chamaram também o idoso e o necessitado
Experiência e humildade bem úteis serão

Foi convocado quem tinha estudado pouco
Pois para ser cidadão escola não carece
Veio também o crente, o ateu, o caboclo
Bem-vindos até aqueles de nenhuma prece

O judeu, budista, mórmon ou o candomblé
Avisaram mesmo os que não eram cristãos
Porque agora, não interessava mais a fé
De ônibus, carro, a pé são todos irmãos

A cada dia o grupo ficava mais complexo
Chamaram Travestis, Drags e Transexuais
Todos os que amam alguém do mesmo sexo!
Gay, Bi, Lésbica voltaram a ser normais

Marido e mulher, já não era obrigatório
O casamento Homossexual podia outra vez
A liberdade deste amor era algo notório
Havia filhos de héteros, filhos de Gays

Não importa se você é marrom ou amarelo
Já que essas raças ao grupo pertencerão
Os negros, os mulatos, os pardos vieram
Tenha orgulho da sua cor e sua condição

A mãe, a avó, a cunhada, a tia e a irmã
Encantaram o grupo com o toque feminino
A mulher era reconhecida de novo cidadã
Símbolo do amor, uma nação e o seu hino

De novo as cem pessoas estavam reunidas
Para Formar uma outra Associação, enfim
Tiveram pois, que mudar o nome do grupo
Pois o preconceito não era mais seu fim

O objetivo agora é formar um grupo novo
De pessoas que respeitam seu semelhante
Em tratamento digno, humano, respeitoso
É bem simples, mas é uma ideia brilhante

2 comentários:

  1. Muito massa! de quem é a autoria da poesia?

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  2. Muito interessante,esta poesia,me trouxe de volta,a esperança.
    Parabéns!!

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