Preste atenção, vou contar uma história
De pessoas que pensavam não ter defeito
Todas se uniram, eram um só grupo agora
Que foi chamado: o grupo do preconceito
Mas o grupo não durou muito tempo unido
Ele não deu muito certo, logo se desfez
Mas o que será que deve ter acontecido?
Eu vou contar sua história, era uma vez...
Cem pessoas participavam daquele evento
Mas a coisa que todas elas tinham igual
Era sem dúvida alguma aquele sentimento
Que deu nome ao grupo e juntou o pessoal
Mas bem no começo, um detalhe perceberam
No grupo de cem, branco não era a regra
Algo estava errado, logo se enfureceram
Pois dentre eles dez eram da raça negra
Lógico, os outros membros os expulsaram
Ficando só os noventa brancos perfeitos
Que tinham preconceitos e não perdoavam
Enfim livres dos detestáveis dez negros
O grupo, reduzido, já estava discutindo
Assim, começaram lá atrás algumas rixas
E vários no grupo acabaram se assumindo
Dos homens lá presentes, dez eram bichas
Vejam só este absurdo, como é que pode?
Bichas em meio aos machões, que nojento
Será que eles querem levar um "sacode"?
Devem gostar de porrada e de sofrimento
Vamos ter que limpar este grupo é agora
Sem essa de opção sexual, macho é macho
Batam bastante, mandem as bichas embora
E quem fizer frescuras aqui eu despacho
Falando em frescura, de quem é o batom?
Entre os oitenta há também dez mulheres
Com covardes e fracas o grupo não é bom
Já para a cozinha, entre copos e talheres
Ficaram assim apenas os setenta machões
Vamos fazer um estatuto, disse um então
Depois de conversas e muitas discussões
Decidiram: o grupo vai virar associação
Chamou-se Associação dos Brancos Machos
Completaram com o termo: Preconceituosos
Mas ao discutirem a religião e os seus atos
Alguns não eram cristãos, nem religiosos
Que absurdo, deus só tem um e é o nosso
Quem não seguir o pensamento vai embora
Exterminar seitas e ateus sei que posso
Fica grupo limpo, por dentro e por fora
Dentre setenta, vinte não eram cristãos
E assim não cultuavam nem vinho, nem pão
Expulsos a pontapés pelos outros irmãos
Sobraram só cinquenta da mesma religião
Mas olharam de novo, para espanto geral
Notaram surpresos, depois das expulsões
Que, nem dessa forma, o grupo era igual
Para uns o aluguel, para outros mansões
É uma vergonha ter pobres no nosso meio
Quem não tem dinheiro de nada nos serve
Aqui não fica pobre, mendigo, esmoleiro
É que os melhores não se juntam à plebe
Vinte pobres que não têm a nossa classe
Fiquem nos barracos ou vão já trabalhar
Seria favor se, sozinhos, nos deixassem
É hora do banquete com lagosta e caviar
Só sobraram ali os trinta privilegiados
Que odeiam e não se misturam com negros
Budistas, mulheres, pobres e nem viados
Queimemos todos por seus medonhos erros
Acho que podemos formar o grupo por fim
Só que não é um grupo, é uma associação
Após escolher o presidente, façam assim
Votem agora no secretário e no escrivão
Esperem, algo aqui ainda não está certo
Este grupo não parece ser bem homogêneo
Enquanto tem um sem estudo e analfabeto
O outro tem doutorado e é quase um gênio
Quem não tem estudo, faça-me já o favor
De se desligar hoje mesmo da Associação
Fiquem aqueles que têm título de doutor
Ou são bem formados, numa boa profissão
E vinte coitados sem estudo, nem letras
Já chamados de burros, de gente anormal
Foram expulsos dali com paus e marretas
E correram pelos fundos, para o quintal
Ali os dez melhores são os que sobraram
Morra quem é mulato, Gay ou de outra fé
E felizes da vida até se cumprimentaram
Mais perfeitos que eles, ninguém mais é
Mas só ao fazerem isso perceberam então
Que um deles tinha um defeitinho na mão
Quem tem dedo torto fica na Associação?
E levantou-se assim, uma nova discussão
Surdo e canhoto, sem direito respeitado
São defeitos da natureza, coisa anormal
Sai do grupo o cego, o mudo, o aleijado
Vamos pôr nisto tudo um bom ponto final
Junto daqueles, havia um manco da perna
Que ajudava o avô de aparelho na orelha
Expulse até os velhos, chega de baderna
Só fica gente sadia, sem a pele vermelha
Colocados para fora sem constrangimento
Todos os diferentes, até gordo e careca
Porque lá não aceitam nem em pensamento
Cadeira de roda, peruca, óculos, muleta
Com a perda dos sete por defeito físico
Só ficaram três deles, já meio abalados
Imaginando se ainda haveria algum risco
E temendo que algo os deixasse isolados
Passada esta fase começaram a conversar
Pois, afinal, ainda eram uma associação
Há coisas a fazer, assuntos a deliberar
Já que eles eram a rica nata da criação
E conversando muito e também discutindo
As coisas foram num instante aparecendo
E não eram iguais entre si nem sorrindo
Só agora é que estavam mesmo percebendo
Quanto a política e futebol discordavam
Cada membro tinha um partido ou um time
Centro, direita, Vasco, Grêmio gritavam
Lá todos tinham uma opinião muito firme
Então viram que o grupo não daria certo
Eram todos diferentes e não concordavam
E já nem podiam ver seu amigo por perto
Que chegava o preconceito e se enojavam
E assim cada um expulsou os outros dois
Por isso, aquela Associação se dissipou
Decidiram sumir, sem deixar para depois
Dessa forma, este horrendo grupo acabou
O tempo passou rápido, mas algo ocorria
E os três decidiram reunir-se novamente
Como não se vive só, o grupo retornaria
Mas desta vez, um novo projeto em mente
Quem é deficiente foi novamente chamado
Pois defeito não era motivo de exclusão
Chamaram também o idoso e o necessitado
Experiência e humildade bem úteis serão
Foi convocado quem tinha estudado pouco
Pois para ser cidadão escola não carece
Veio também o crente, o ateu, o caboclo
Bem-vindos até aqueles de nenhuma prece
O judeu, budista, mórmon ou o candomblé
Avisaram mesmo os que não eram cristãos
Porque agora, não interessava mais a fé
De ônibus, carro, a pé são todos irmãos
A cada dia o grupo ficava mais complexo
Chamaram Travestis, Drags e Transexuais
Todos os que amam alguém do mesmo sexo!
Gay, Bi, Lésbica voltaram a ser normais
Marido e mulher, já não era obrigatório
O casamento Homossexual podia outra vez
A liberdade deste amor era algo notório
Havia filhos de héteros, filhos de Gays
Não importa se você é marrom ou amarelo
Já que essas raças ao grupo pertencerão
Os negros, os mulatos, os pardos vieram
Tenha orgulho da sua cor e sua condição
A mãe, a avó, a cunhada, a tia e a irmã
Encantaram o grupo com o toque feminino
A mulher era reconhecida de novo cidadã
Símbolo do amor, uma nação e o seu hino
De novo as cem pessoas estavam reunidas
Para Formar uma outra Associação, enfim
Tiveram pois, que mudar o nome do grupo
Pois o preconceito não era mais seu fim
O objetivo agora é formar um grupo novo
De pessoas que respeitam seu semelhante
Em tratamento digno, humano, respeitoso
É bem simples, mas é uma ideia brilhante